quarta-feira, 23 de abril de 2008

Botando os pingos nos "is"

Pois é, pessoal... memória e história são coisas muito sérias... Digo isso com a tristeza de constatar que a primeira para mim já não está lá essas coisas e acaba, por isso, prejudicando a segunda (e olha que estou contando apenas 31 primaveras). Não é que a tia Rioco colocou os pingos nos "is" com relação ao começo das bordadices desse grupo? A coisa de bordar é de antes até da colcha do ditchan e da batchan. Segue aqui o depoimento da Rió com relação ao início das atividades do Laços & Traços:

"Eu já fazia parte da "Teia de Aranha" desde setembro de 2001 quando o grupo nasceu e bordou 5 grandes painéis inspirados em trechos do "Grande Sertão: Veredas" de JGR. Sabendo que eu bordava adoidada, a Iara me procurou em janeiro de 2004, pedindo-me uma ajuda pra bordar uma cortina pro rebento que estava em seu útero (o nosso querido Vitinho, primeiro da linhagem dos bisnetos de meus pais). A encomenda da futura mamãe era "Floresta" com bichos e plantas. Fizemos alguns encontros para bolar a tal cortina e no meio desse processo tive uma sacação: seria muito legal que a vovozinha também participasse dessa obra. Logo mais surgiu a idéia de envolver outras tias e primas na feitura desse presente. Assim foi nascendo o primeiro bordado coletivo da familia Kayano, motivado por laços de natureza afetiva. O resultado, todos sabem, saiu uma cortina linda, estilo "naife", um nome chique pra caracterizar os desenhos feitos ou copiados sem preocupação com proporção, espacialidade, livre e solto.

Nesse mesmo ano de 2004, no segundo semestre, estávamos preparando a festa de comemoração dos 60 anos de casamento dos nossos pais (Batyan, Diitchan) que aconteceria em dezembro. Aproveitei o embalo da cortina e lancei a idéia de bordarmos uma colcha cuja proposta era arrancar imagens sugeridas por todos os membros da família relacionados ao vínculo afetivo com os homenageados. Foram encontros e mais encontros nos finais de semana onde fomos descobrindo a riqueza e a emoção de resgatar as lembranças remotas, remotíssimas ou mais recentes em torno dos nossos laços familiares. O resultado saiu lindo mas acho que o processo foi o mais divertido, emocionante e deu uma qualidade diferente aos nossos costumeiros encontros familiares. O legal foi que botamos pra pegar em linha e agulha jovens inexperientes (meio toscas em matéria de bordado...) como também conseguimos envolver os homens, não para bordar, mas para compartilhar da experiência com suas lembranças e palpites. Tive ocasião de exibir a colcha no Morro da Garça, sertão de MG, e ela causou sensação, atraiu a atenção de muita gente que percebeu o conteúdo afetivo colocado naquelas imagens bordadas."

Para não deixar dúvida com relação ao fato de que a cortina do Vitor foi mesmo o trabalho de ponta pé do grupo, acima uma foto, contribuição da Olinda, mostrando a tentativa da Marília, esta que vos escreve - ainda como Laços & Traços! não consegui até agora me colocar como autora separada (suspiro e franzir de sobrancelhas) - de contribuir com uma mísera nuvem e dois ou três passarinhos estilizados daqueles que a gente faz mais como um "v" no horizonte, bem distante e sem muito detalhe mesmo. A cara de sofrimento misturada a ué, diz tudo... Acho que confundi o começo dos trabalhos do grupo porque, em retrospecto, a minha contribuição para a cortina do Vitor foi do tipo intimação, no meio do chá de bebê, com a tia Rioco de um lado (à esq.) e a futura mamãe, a Iarinha (à dir.) do outro, a obra-prima praticamente pronta, somente esperando que eu e a Lia, minha irmã caçula, e mais alguma desavisada de plantão, fizesse nem que fosse um pontinho no presente coletivo. Foi no susto, mas foi de coração (risos). Dá para ver isso na minha cara também. E isso é o que interessa, não é mesmo? Essas eram as palavras que a tia Rioco ficava, aliás, falando para mim. Ou parecidas. A lição que ficou daquele dia é que não importava o estilo do bordado, se fosse feito com um mínimo de vontade de dar forma de linha em um pano com uma agulha a um sentimento, a uma lembrança, a uma fantasia, ou o que fosse, estava valendo. E valeu mesmo. Foi surpreendentemente divertido no fim das contas! (Mas não mudo nada o fato de que a colcha do ditchan e da batchan foi mesmo mais difícil, pois o bordado era maior e mais complexo! risos de montão)

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei a foto! a Marilia tá com uma cara q é tipica de quem tá aprendendo a bordar,já fiz mtas oficinas por aí e sempre vejo a mesma expressão nos iniciantes nessa arte das linhas e panos.Uma sugestão:quem tirar foto,por favor coloque a data. Rió